Por que (não) existem milagres no Novo Testamento? O ambiente mágico mediterrânico: notas sobre poder e magia antigos

Autores

  • André Leonardo Chevitarese
  • Daniel Brasil Justi

DOI:

https://doi.org/10.17648/rom.v0i9.18480

Palavras-chave:

Mística, Religião, Magia, Paleocristianismos, Semântica

Resumo

O que o presente texto defende é que o conceito fundamental para se falar de homens divinos que conhecem e manipulam as forças (dýnamis) cósmicas é o poder (dýnamis). É bastante evidente que na bacia mediterrânica a associação entre pessoas (homens divinos, magos, etc.) e poder (dýnamis) conformou um imaginário da magia. É exatamente essa associação que tornou conhecido o homem divino. Talvez por isso o Evangelho de João tenha evitado o seu uso. A advertência, aqui, é para que seja dada a devida atenção antes de se harmonizar a visão dos sinóticos quanto a suas respectivas compreensões de sēmĕîon, ĕrgŏn, tĕras e dýnamis, de um lado, e a visão joanina de sēmĕîon e ĕrgŏn, por outro. Uma vez posta a advertência sobre o risco da harmonização no emprego dos termos e seus respectivos significados e consequências, observada há séculos pela tradição cristã, torna-se imperioso analisar que papel o conceito de poder desempenha na questão semântica e, por conseguinte, na sua importância para a compreensão das experiências místicas mediterrânicas, no geral, e paleocristãs, em particular.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Fontes textuais

A BÍBLIA DE JERUSALÉM. Edição em língua portuguesa de Gilberto da Silva Gorgulho, Ivo Storniolo e Ana Flora Anderson. São Paulo: Paulus, 2002.

BÍBLIA SAGRADA. Versão de João Ferreira de Almeida, revista e atualizada. Rio de Janeiro: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.

______. Nova Tradução na linguagem de hoje. Rio de Janeiro: Sociedade Bíblica do Brasil, 2000.

BETZ, H. D. (Ed.). The Greek Magical Papyri in translation: including the demotic spells. Chicago: The University of Chicago Press, 1992.

HENDERSON, J. (Ed.). Digital Loeb Classical Libary. Cambridge: Harvard University Press, 2014.

HOMERO. Ilíada. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.

INSCRIPTIONES GRAECAE E CORPUS INSCRIPTIONUM GRAECARUM. Disponíveis em: <http://epigraphy.packhum.org/inscriptions>.

NOVO TESTAMENTO INTERLINEAR. Versão de Waldyr Carvalho Luz. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.

NOVUM TESTAMENTUM GRAECE. Edited by Barbara et Kurt Aland, Johannes Karavidopoulos, Carlo M. Martini, Bruce Metzger. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1995.

THE GREEK NEW TESTAMENT. Revised edition by Kurt Aland, Matthew Black, Carlo M. Martini, Bruce M. Metzger. London: United Bible Society, 1966, 1968, 1975 e 1983, 2001.

Obras de referência

BERTRAM, G. e;rgon. In: KITTEL, G. (Ed.). Theological Dictionary of the New Testament. Michigan: WM. B. Eerdmans, 1995. v. 2.

FOERSTER, W. evxousi,a. In: KITTEL, G. (Ed.). Theological Dictionary of the New Testament. Michigan: WM. B. Eerdmans, 1995. v. 2.

GRUNDMANN, W. ivscu,j. In: KITTEL, G. (Ed.). Theological Dictionary of the New Testament. Michigan: WM. B. Eerdmans, 1995. v. 3.

HOUAISS, A., VILLAR, M. S., FRANCO, F. M. M. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia, 2001.

LIDDELL, H.; SCOTT, R. F. Greek‐English Lexicon. Oxford: Clarendon Press, 1997.

MICHAELIS, W. kra,toj. In: KITTEL, G. (Ed.). Theological Dictionary of the New Testament. Michigan: WM. B. Eerdmans, 1995. v. 3.

RENGSTORF, K. H. shmei/on. In: KITTEL, G. (Ed.). Theological Dictionary of the New Testament. Michigan: WM. B. Eerdmans, 1995. v. 7.

________. teraj. In: KITTEL, G. (Ed.). Theological Dictionary of the New Testament. Michigan: WM. B. Eerdmans, 1995a. v. 8.

Obras de apoio

AUNE, D. E. Magic in Early Christianity. In: HAASE, W. (Ed.) Aufstieg und Niedergang der römischen Welt. II. 23.2, p. 1507-1557, 1980.

AUNE, D. E. ’Magic’ in Early Christianity and its Ancient Mediterranean context: a survey of some recent scolarship. Annali di Storia dell’Esegesi, n. 24, p. 229-294, 2007.

BOUSTAN, R.; SANZO, J. E. Christian magicians, Jewish magical idioms, and the shared magical culture of Late Antiquity. Harvard Theological Review, v. 110, n. 2, p. 217-240, 2017.

BROWN, R. E. A comunidade do discípulo amado. São Paulo: Paulus, 1999.

CHEVITARESE, A. L.; PENNA, F. A. Magia e religião no Festival das Antestérias. História Revista, v. 6, n. 2, p. 9-24, 2004.

CHEVITARESE, A. L. Cristianismos: questões e debates metodológicos. Rio de Janeiro: Klínē, 2015.

CHEVITARESE, A. L.; JUSTI, D. B. O Jesus ariano. O imaginário e as concepções historiográficas do Jesus Histórico na Alemanha Nazista. Revista Horizonte, v. 15, n. 45, p. 188-205, 2017.

CHEVITARESE, A. L.; CORNELLI, G.; SELVATICI, M. (Org.). Jesus de Nazaré: uma outra história. São Paulo: Annablume, 2006.

CHEVITARESE, A. L.; CORNELLI, G.; Judaísmo, cristianismo e helenismo: ensaios acerca das interações culturais no Mediterrâneo Antigo. São Paulo: Annablume, 2007.

COLLINS, D. Magia no mundo grego antigo. São Paulo: Madras, 2009.

CORNELLI, G. Sábios, filósofos, profetas ou magos? Equivocidade na recepção das figuras de qei/oi andrej na literatura helenística: a magia incômoda de Apolônio de Tiana e Jesus de Nazaré. Tese (Doutorado em Ciências da Religião) – Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2001.

CORRINGTON, G. P. The divine man: his origin and function in Hellenistic popular religion. New York: Peter Lang, 1986.

DODDS, E. R. Os gregos e o irracional. Lisboa: Gradiva, 1988.

ELLIOTT, J. H. P. Galatians and the Evil Eye. In: NEYREY, J. H.; STEWART, E. C. (Ed.). The social world of the New Testament: insights and models. Massachusetts: Hendrickson, 2008.

GINZBURG, C. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e História. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

HAENCHEN, E. Gospel of John (1-6): a critical and historical commentary. Philadelfia: Fortres Press, 1984.

HOBSBAWM, E.; RANGER, T. A invenção das tradições. São Paulo: Paz e Terra, 2008.

JUSTI, D. B. Literatura e cultura popular no cristianismo primitivo: a crença e prática do mau-olhado em Gálatas 3,1-5. Dissertação (Mestrado em Teologia) – Programa de Pós-Graduação em Teologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011.

______. A construção de Paulo de Tarso como homem divino (thĕiŏs anēr) em Atos dos Apóstolos: as culturas mediterrânicas e paleocristãs em perspectiva comparada. Tese (Doutorado em História) – Programa de Pós-Graduação em História Comparada, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.

JUSTI, D. B.; FARIA, L. A. dos S. Conversando com John Dominic Crossan. Rio de Janeiro: Klínē, 2017.

KOESTER, H. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulus, 2005.

LUCK, G. Arcana Mundi: magic and the occult in the Greek and Roman worlds. Baltmore: The Johns Hopkins University Press, 2006.

MENDES, C. A. M. Martinho Lutero e o Terceiro Reich. A perspectiva cinematográfica de uma tradição inventada. Monografia (Conclusão de Curso em História) – Instituto de História, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.

______. O santo Reich. Concepções nazistas do cristianismo 1919-1945. Revista de Estudos sobre o Jesus Histórico e sua Recepção, v. 12, p. 4-9, 2014.

PILGAARD, A. The hellenistic theios aner: a model for early Christian Christology. In: BORGEN, P.; GIVERSEN, S. (Ed.) The New Testament and Hellenistic Judaism. Aarhus: Aarhus University Press, 1995.

POLLAK, M. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos, v. 2, n. 3, p. 3-15, 1989.

REITZENSTEIN, R. A. Hellenistic Mystery-Religions: their basic ideas and significance. Pittsburg: Pickwick Press, 1978.

SMITH, M. Prolegomena to a discussion of aretalogies, divine man, the Gospels and Jesus. Journal of Biblical Literature, v. 90, n. 2, p. 174-99, 1971.

______. On the History of the Divine Man. In: FESTSCHRIFT, M. S. Paganisme, Judaisme, Christianisme. Paris: de Boccard, 1978, p. 335-345.

STEIGMANN-GALL, R. O Santo Reich: concepções nazistas do cristianismo 1919-1945. Rio de Janeiro: Imago, 2004.

THOMPSON, E. P. A miséria da teoria. Ou um planetário de erros - uma crítica ao pensamento de Althusser. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

Downloads

Publicado

30-06-2017

Como Citar

CHEVITARESE, André Leonardo; JUSTI, Daniel Brasil. Por que (não) existem milagres no Novo Testamento? O ambiente mágico mediterrânico: notas sobre poder e magia antigos. Romanitas - Revista de Estudos Grecolatinos, [S. l.], n. 9, p. 65–90, 2017. DOI: 10.17648/rom.v0i9.18480. Disponível em: https://periodicos.ufes.br/romanitas/article/view/18480. Acesso em: 24 abr. 2024.

Edição

Seção

Dossiê: Magia, adivinhação e ritos apotropaicos na Antiguidade